22/08/2023
Política

PMDB “autêntico” pede a expulsão de Strechar. Artagão Jr prefere aguardar

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Por Cristina Esteche

Setores do PMDB de Guarapuava divergem sobre o futuro do presidente da Câmara Municipal de Guarapuava Admir Strechar. A ala dos chamados “peemedebistas autênticos”, sob o comando do ex-prefeito Nivaldo Kruger quer a expulsão imediata de Strechar. Já o lado que reconhece o deputado estadual Artagão Jr como liderança prefere aguardar a decisão da Justiça. “Por enquanto houve um fato e vamos aguardar a evolução dos fatos judiciais”, disse o deputado à RSN. De acordo com o parlamentar, o PMDB em algum momento, vai ter que analisar o processo que não necessariamente implicará numa expulsão.

 Se o PMDB de Artagão Junior prefere não tomar nenhuma decisão considerada radical e precipitada, os peemedebistas “velhos de guerra” já “bateram o martelo” e deram o veredicto final. “Não há mais como conviver com essa situação. Estamos elaborando um documento que será enviado o mais rápido possível à Comissão Executiva Municipal exigindo a expulsão”, afirmou Kruger.

Segundo o ex-prefeito, o documento conterá mais de 100 assinaturas de lideranças que fundaram o ainda MDB. São pessoas como o ex-deputado estadual Trajano Bastos Oliveira, o ex-prefeito Cândido Pacheco Bastos, o ex-vereador Norton Pacheco Bastos, Sinval Gomes e outros. “O Trajano quando viu que o PMDB estava sendo assaltado pelos progressistas saiu e abandonou tudo. O Candinho (Cândido Pacheco Bastos quando saiu da Prefeitura teve que vender bens para recomeçar fora da vida pública. São mais de 20 anos de vida pública sem ter um rastro feio. Hoje estamos vivendo um apagão político”, disse.

A intenção dos peemedebistas que pertencem a essa ala é fazer valer o que prevê o estatuto (Comissão de Ética) do Partido. “Não podemos suportar essa situação. Queremos a expulsão”, ratifica Norton Pacheco Bastos. Segundo Kruger, no caso de uma possível cassação de Strechar o vereador perderá o mandato. “O mandato não é dele. É do partido”, ressalta Kruger.

De acordo com o deputado Artagão Junior, a primeira suplente é a ex-vereadora Almira Angeluci.

A DIVISÃO NO PMDB

A dissidência do PMDB em Guarapuava traz laços que o unem à história do próprio partido. Primeiro, MDB (Movimento Democrático Brasileiro), com nomes como Nivaldo Kruger, Trajano Bastos de Oliveira, Plínio Sotti Lopes, Cândido Pacheco Bastos, Norton Pacheco Bastos, entre outros.

Nomes que seguiram firmes quando o partido acrescentou a letra “P” em 15 de janeiro de 1980 após a nova Lei dos Partidos Políticos ter resgatado o pluripartidarismo (sistema político no qual três ou mais partidos políticos podem assumir o controle de um governo, de maneira independente).

Os militares visavam enfraquecer o MDB obrigaram a renomeação de todas as agremiações, exigindo a todos o designativo de "partido" no início do seu nome. Desta forma, a letra “P” foi adicionada à sigla "MDB", com intuito de preservar o nome tradicional. Nascia o PMDB.

Para se entender essa costura política no PMDB de Guarapuava, rasgada pela diferença de ideias, é preciso continuar esse retorno à historia. Em 1979 Tancredo Neves funda o PP (Partido Progressista). Nascem também o PT e o PDT, o PTB é recriado. Mas o PP durou pouco. Temendo um novo avanço da oposição o governo adia as eleições municipais de 1980 por meio de uma emenda constitucional do então deputado Anísio de Souza e, posteriormente, implementa um pacote eleitoral que proíbe as coligações, institui a sublegenda e o voto vinculado nas eleições gerais de 1982.

Essas medidas inviabilizaram o Partido Popular (PP) de Tancredo Neves e levaram suas lideranças a optarem pela incorporação ao PMDB com os dissidentes seguindo rumo ao PDS, nascido no berço da então extinta Arena (Aliança Renovadora Municipal), partido mantenedor da ditadura militar de 1964-1985, que tinha como oposição o MDB. A Arena é a “mãe” do DEM (Democratas) , refundado em 28 de março de 2007, em substituição ao Partido da Frente Liberal (PFL) criado em 1985, que por sua vez era uma dissidência do extinto PDS (Partido Democrático Social), sucessor da Arena.

Se o PMDB de Guarapuava era liderado por Kruger, do outro lado, desde a Arena até o PFL, por décadas o comando foi do ex-senador João de Mattos Leão, que é tio do atual deputado Artagão Jr. O atual parlamentar entrou no PMDB quando houve a fusão com o PP, passando a tomar conta do partido até hoje.

Os chamados autênticos foram perdendo espaço para os “penetras”, como denomina Kruger, e estão praticamente à margem das decisões. Mas hoje, ressurgem e estão em “pé de guerra”. Querem a expulsão de Strechar na tentativa de manter a imagem do partido que fundaram. “O importante não é a vitória, mas a luta com dignidade, seja qual for o resultado”, diz Kruger.

Cristina Esteche

Jornalista

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